Dos acordos cotidianos aos cercamentos à casa grande ressignificações simbólicas na experiência das Ligas Camponesas na Paraíba (1954-1964)

Conteúdo do artigo principal

Eduardo Guandalini Genaro
https://orcid.org/0000-0003-3229-4085

Resumo

O artigo analisa as ressignificações da moralidade do trabalho autônomo dos moradores que participaram das Ligas Camponesas na Paraíba, entre 1954 e 1964, comparando os valores e símbolos mobilizados nos acordos cotidianos, que eram uma das formas de resistência cotidiana – como trabalhadas por James Scott (2000) –, e os formulados nos cercamentos à casa grande, que eram parte do repertório de ação coletiva – como trabalhado por Charles Tilly (1993; 2005; 2010) – do movimento. O fito desta investigação foi observar as continuidades e descontinuidades entre estas duas formas de resistência, sendo que tomamos a hipótese de que os tensionamentos das relações entre moradores e grandes proprietários, realizados pelas formas cotidianas de resistência, teriam fundamentado os principais símbolos e valores adotados pelas Ligas. A pesquisa concluiu que o cercamento à casa grande reformulou a experiência do acordo cotidiano, mas expressando uma mudança nas narrativas dos moradores, visto que estes passaram a ver o acesso à terra como sendo possível através da contraposição aos grandes proprietários. O artigo realiza uma análise narrativa tendo como referencial metodológico a Hermenêutica de Profundidade (J. B. Thompson 2011).

Detalhes do artigo

Como Citar
Genaro, E. G. (2022). Dos acordos cotidianos aos cercamentos à casa grande: ressignificações simbólicas na experiência das Ligas Camponesas na Paraíba (1954-1964). Raízes: Revista De Ciências Sociais E Econômicas, 42(Especial), 464–488. https://doi.org/10.37370/raizes.2022.v42.802
Seção
Artigos
Biografia do Autor

Eduardo Guandalini Genaro, Universidade Federal de Campina Grande

Bacharel em Ciências Sociais pela Universidade Estadual de Londrina, Mestre em Ciências Sociais pelo Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande (PPGCS/UFCG), doutorando em Ciências Sociais pelo PPGCS/UFCG. A pesquisa que originou este artigo é relacionada à dissertação do autor (Genaro, 2019a), sendo que tanto esta quanto a atual pesquisa de doutorado são financiadas pelo CNPq.

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