Mulheres agricultoras e sistemas agroalimentares pautados na agroecologia vozes e inspirações do Sertão do Pajeú

Conteúdo do artigo principal

Ana Paula Lopes Ferreira
https://orcid.org/0000-0002-7789-5629
Liliana Mari Lino Pires
https://orcid.org/0000-0002-5850-6042
Ramonildes Alves Gomes
https://orcid.org/0000-0001-5009-9625

Resumo

O presente artigo tem como objetivo discutir a inserção de mulheres agricultoras como sujeito político em Sistemas Agroalimentares Sustentáveis (SAS) pautados na agroecologia. Para tal, são mobilizadas narrativas de mulheres agricultoras do território do Sertão do Pajeú, no semiárido Pernambucano. A partir destas narrativas, discute-se as opressões a que estão submetidas e suas resistências no contexto da experimentação agroecológica, assim como em suas atuações em espaços públicos no referido território. Conclui-se que a auto-organização como estratégia de empoderamento destas mulheres possibilita sua inserção como sujeito político nos SAS, não somente pela inclusão econômica, mas também pela valorização de suas formas de saber, ser e fazer relevantes à proteção do meio ambiente e da diversidade, e ao estabelecimento de relações de cooperação e solidariedade como atributos que contribuem à sustentabilidade destes sistemas.

Detalhes do artigo

Como Citar
Lopes Ferreira, A. P. ., Lino Pires, L. M. ., & Gomes, R. A. (2021). Mulheres agricultoras e sistemas agroalimentares pautados na agroecologia: vozes e inspirações do Sertão do Pajeú. Raízes: Revista De Ciências Sociais E Econômicas, 41(2), 280–300. https://doi.org/10.37370/raizes.2021.v41.744
Seção
Dossiê: Sistemas Agroalimentares Contemporâneos
Biografia do Autor

Ana Paula Lopes Ferreira, Rede GTD México

Doutora pela Universidade de Córdoba, Espanha no Programa de Recursos Naturais e Gestão Sustentável (2016). Mestre em Agroecologia pela Universidade Internacional de Andalucía, Espanha (2009). Engenheira Agrônoma pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (1992). Especialista em Gênero, Agroecologia e Sustentabilidade, com experiência em entidades da sociedade civil, movimentos sociais, e agências de cooperação internacional. Desenvolve projetos diversos dentre os quais destacam-se os seguintes temas: (i) Mulheres, Agroecologia e Sustentabilidade; (ii) Mulheres e Políticas Públicas; (iii) Mulheres e Cidades; (iv) Pobreza e Desigualdades; e, (v) Segurança Alimentar.

Liliana Mari Lino Pires, Universidade Estadual de Santa Catarina

Facilitadora de processos de desenvolvimento junto a agricultores familiares e povos e comunidades tradicionais e suas organizações, assim como organizações governamentais e não governamentais, tendo como princípio o protagonismo e autonomia de cada grupo e indivíduo. Atua nos biomas da Amazônia, Mata Atlântica e Caatinga, concebendo e implementando estratégias e metodologias de diagnóstico, planejamento e monitoramento participativo; desenvolvimento organizacional; construção participativa de políticas públicas; articulação e governança intra e interinstitucional; sistematização e aprendizagem de experiências e formação de jovens e adultos, com ênfase nos seguintes temas: soberania e segurança alimentar e nutricional, povos e comunidades tradicionais, gestão territorial, agroecologia e sociobiodiversidade. Atualmente é consultora associada ao Instituto de Desenvolvimento Social e mestranda no em Planejamento Territorial e Desenvolvimento Socioambiental na Universidade do Estado de Santa Catarina (UDESC). Possui graduação em Medicina Veterinária pela Universidade de São Paulo e especialização em Liderança para o Desenvolvimento Sustentável pelo Programa LEAD (Leadership for Environment and Development), do qual é fellow desde 2000.

Ramonildes Alves Gomes, Universidade Federal de Campina Grande

Doutora em Sociologia. Professora do Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal de Campina Grande.

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