Justificação e experiência na trajetória dos atingidos pela Barragem de Jaguara-SP
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Resumo
A Usina Hidrelétrica de Jaguara, construída na década de 1960, no interior do estado de São Paulo, deslocou compulsoriamente um grande número de famílias agricultoras e não agriculturas durante formação do lago artificial. O artigo em tela tem como objetivo problematizar os posicionamentos divergentes e controversos entre os atingidos pela construção da barragem, bem como as diferentes estratégias de atuação desse grupo social junto à concessionária responsável pela obra, seja para minimizar perdas, ou para oportunizar ganhos no campo particular e pessoal. Para a realização do estudo, foram utilizados procedimentos qualitativos de pesquisa social, dentre os quais entrevistas semiestruturadas e coleta de relatos orais. Também foi utilizado um amplo levantamento documental do período de construção e início das atividades da UHE. Na análise dos resultados, foram problematizados os temas relacionados à reestruturação territorial, social e simbólica dos atingidos; e aos conflitos entre os grupos sociais, a depender das experiências (amparado na sociologia de E.P. Thompson) e das justificações (amparado na sociologia de Luc Boltanski). Como resultado, entende-se que não há um consenso entre os atingidos a respeito dos impactos da construção da barragem, mas uma multiplicidade de experiências e diferentes significações que transitam entre as ameaças de perdas e as oportunidades de ganhos.
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