Ensaio sobre as relações sociais de produção nas estâncias do Rio Grande do Sul
Conteúdo do artigo principal
Resumo
Neste artigo, analisamos as relações sociais de produção constituídas nas estâncias do Rio Grande do Sul, com enfoque para as condições materiais e simbólicas que se estabeleceram nas interações das diferentes categorias de trabalhadores com os proprietários de terra denominados estancieiros. A literatura sobre o tema tem se debruçado sobre as dinâmicas relativas às estâncias no século XIX, prioritariamente. Aqui, analisamos transformações a partir dos anos 1940-1980, de forte ascensão social dos estancieiros e de oficialização de um estatuto do trabalho rural (1963), considerando suas repercussões sobre as relações de produção atuais. Os dados foram produzidos a partir de entrevistas com vinte e três trabalhadores/as, ou seja, com os estratos de baixo do espaço social. Nossos resultados iniciais apontam para insuficiências nas categorias trabalho assalariado e pecuária familiar na análise das condições em que a reprodução social de grupos familiares de trabalhadores/as se vinculam às grandes propriedades rurais.
Detalhes do artigo
Referências
BESKOW, Paulo Roberto. O arrendamento capitalista na agricultura: evolução e situação atual da economia do arroz no Rio Grande do Sul. São Paulo: Hucitec; Brasília: CNPq, 1986
BOURDIEU, Pierre. O Poder Simbólico. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1989.
BRUMER, Anita. Gênero e agricultura: a situação da mulher na agricultura do Rio Grande do Sul. Revista Estudos Feministas, v. 12, n. 1, p. 205-227, 2004.
BRUMER, Anita. Previdência social rural e gênero. Sociologias, Porto Alegre, v. 4, n. 7, p. 50-81, jan./jun. 2002.
CARDOSO, Fernando Henrique. Capitalismo e escravidão no Brasil meridional: o negro na sociedade escravocrata do Rio Grande do Sul. 5. Ed. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2003.
CARNEIRO, Maria José. Herança e gênero entre agricultores familiares. Revista Estudos Feministas, p. 22-55, 2001.
CERQUEIRA, Ana Carneiro. “Mulher é trem ruim”: a “cozinha” e o “sistema” em um povoado norte-mineiro. Revista Estudos Feministas, v. 25, n. 2, p. 707-731, 2017.
ELIAS, Norbert. Introdução à sociologia. Braga (Portugal): Editora Pax/Edições 70, 1980.
FARINATTI, Luís Augusto Ebling. Confins Meridionais: famílias de elite e sociedade agrária na fronteira sul do Brasil. Santa Maria: Editora UFSM, 2010.
GARCIA JR., Afrânio Raul. O Sul: caminho do roçado: estratégias de reprodução camponesa e transformação social. São Paulo: Marco Zero; Brasília, DF: Editora Universidade de Brasília: MCT-CNPq, 1989.
IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Censo Agropecuário. 2006.
MAESTRI, Mario. O cativo, o gaúcho e o peão: considerações sobre a fazenda pastoril riograndense (1680-1964). In: MAESTRI, Mario (Org.). Peões, gaúchos, vaqueiros, cativos campeiros: estudos sobre a economia pastoril do Brasil. Passo Fundo: Editora Universidade de Passo Fundo, 2010, p. 212-300.
MARTINS, José de Souza. O cativeiro da terra. 9. ed. revista e ampliada. São Paulo: Contexto, 2010.
MEDEIROS, Laudelino T. O peão de estância: um tipo de trabalhador rural. Porto Alegre: Instituto de Estudos e Pesquisas Econômicas/UFRGS – Estudos e Trabalhos mimeografados n° 8, 1969.
NESKE, Márcio Zamboni. Mercantilização, heterogeneidade social e autonomia na produção familiar: uma análise da pecuária familiar do Rio Grande do Sul. In: WAQUIL, Paulo Dabdab et al. (Org.) Pecuária familiar no Rio Grande do Sul: história, diversidade social e dinâmicas de desenvolvimento. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2016. p. 131-148.
PALMEIRA, Moacir. Casa e trabalho: nota sobre as relações sociais na plantation tradicional (1977). In: WELCH, C. A.; MALAGODI, E.; CAVALCANTI, J. S. B.; WANDERLEY, M. de N. (Orgs.) Camponeses brasileiros, v. 1. São Paulo: Editora UNESP; Brasília: NEAD, 2009. p. 203-216.
PAULILO, Maria Ignez S. O peso do trabalho leve. Revista Ciência Hoje, v. 5, n. 28, p. 64-70, 1987.
PAULILO, Maria Ignez. Trabalho familiar: uma categoria esquecida de análise. Revista Estudos Feministas, v. 12, n. 1, p. 229-252, 2004.
PICCIN, Marcos Botton. Os senhores da terra e da guerra do Rio Grande do Sul: um estudo sobre as estratégias de reprodução social do patronato rural estancieiro. 2012. 457 f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas. 2012.
PICCIN, Marcos Botton. Patronato estancieiro gaúcho: de subsidiários das lavouras de exportação a produtores de artigos de luxo. Estudos Sociedade e Agricultura, Rio de Janeiro, v. 22, n. 2, p. 327-59, out. 2014.
RIBEIRO, Claudio Marques. O modo de vida dos pecuaristas familiares no pampa brasileiro. In: WAQUIL, Paulo Dabdab et al. (Org.) Pecuária familiar no Rio Grande do Sul: história, diversidade social e dinâmicas de desenvolvimento. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2016. p. 87-108.
RIO GRANDE DO SUL. Secretaria de Coordenação e Planejamento. Fundação de Economia e Estatística. 25 anos de economia gaúcha – a agricultura do Rio Grande do Sul. Porto Alegre, v. 3, 1978.
SEYFERTH, Giralda. Herança e estrutura familiar camponesa. Boletim do Museu Nacional. Rio de Janeiro: Museu Nacional, 1985.
SIGAUD, Lygia. A nação dos homens: uma análise regional de ideologia. Anuário antropológico, v. 3, n. 1, p. 13-114, 1979.
SIGAUD, Lygia. Direito e coerção moral no mundo dos engenhos. Estudos históricos, v. 9, n. 18, p. 361-388, jul./dez. 1996.
WAQUIL, P. D.; MATTE, A.; NESKE, M. Z.; BORBA, M. (Orgs.) Pecuária familiar no Rio Grande do Sul: história, diversidade e dinâmicas de desenvolvimento. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2016.
WEBER, Max. A situação dos trabalhadores rurais na Alemanha nas províncias do Além-Elba. In: SILVA, José Graziano da; STOLCKE, Verena (Orgs.). A Questão Agrária. São Paulo: Brasiliense, 1981, p. 59-80.
WOORTMANN, Klaas. Com parente não se neguceia: o campesinato como ordem moral. Anuário antropológico, v. 87, p. 11-73, 1990.
ZARTH, Paulo Afonso. Do arcaico ao moderno: o Rio Grande do Sul agrário do século XIX. Ijuí: Editora Unijuí, 2002.