Gênero e modernização da agricultura conexões a partir das narrativas de mulheres camponesas no Oeste Catarinense
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Resumo
Este artigo analisa as transformações que ocorreram na agricultura e nas relações de gênero no oeste catarinense, nas décadas de 1970, 80, e 90, recortando as unidades de produção camponesas. Partindo do relato das mulheres camponesas, militantes do Movimento de Mulheres Camponesas (MMC), que viveram tais transformações, resgatadas por meio de onze entrevistas semi-estruturadas, a hipótese que guia este trabalho é a de que a emergência do trabalho integrado, uma das características da modernização da produção agrícola no oeste catarinense, transforma os modos de produzir do campesinato, mobilizando a diferença de gênero e acirrando desigualdades. Argumenta-se que o estabelecimento de contratos de integração entre as famílias camponesas e as agroindústrias e, posteriormente, o agronegócio, concorrem para naturalizar uma generificação do trabalho produtivo e reprodutivo. Os homens tornam-se os responsáveis e gestores da produção; e as mulheres são cada vez mais associadas ao trabalho de reprodução, de modo que o trabalho das mulheres no âmbito produtivo vai se tornando progressivamente invisibilizado. A partir deste caso, este artigo explora as consequências analíticas da relação entre modernização da agricultura, divisão sexual do trabalho e desigualdades de gênero.
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