Resistência cotidiana, fugas e a dominação negociada: os campeiros escravizados do Rio Grande do Sul

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Karl Monsma

Resumo

Os campeiros escravizados nas estâncias de criação de gado no Rio Grande do Sul no século XIX trabalhavam a cavalo, armados e sem fiscalização constante em uma região perto de fronteiras internacionais, o que certamente facilitava sua resistência, especialmente as fugas. A evidência examinada aqui sobre as relações entre os senhores e estes cativos confirma aspectos centrais do argumento de James Scott, mostrando que a maioria desses escravos não acreditava que seu cativeiro fosse justo e que a resistência cotidiana e de pequena escala proporcionava melhorias nas suas condições materiais e simbólicas de vida. Entretanto, a evidência não é totalmente coerente com outro argumento de Scott, segundo o qual a deferência dos subalternos é simplesmente fingida e as exigências deles são formuladas dentro da lógica hegemônica por motivos puramente estratégicos. Os campeiros cativos não se rebelavam ou evadiam a cada oportunidade que aparecia. A evidência sugere que, dado a existência da escravidão, eles reconheciam as normas e obrigações morais que haviam se desenvolvido ao longo do tempo para regular as relações entre senhores e cativos. Essas normas implicavam obrigações de ambos os lados e, em muitos casos, constituíam a melhor maneira de limitar a brutalidade dos senhores ou capatazes e de ganhar algumas melhorias dentro do sistema. Existe uma diferença importante entre a legitimidade de um sistema de dominação e a autoridade de indivíduos com poder dentro do sistema. Como indivíduos, os senhores podiam ganhar o respeito dos cativos pelo tratamento relativamente decente e pela distribuição de favores. Os escravos estavam enredados em uma teia de relações pessoais de poder que minavam sua solidariedade, separando e individualizando-os, premiando a lealdade a senhores específicos e punindo a rebeldia.

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Como Citar
Monsma, K. . (2014). Resistência cotidiana, fugas e a dominação negociada: : os campeiros escravizados do Rio Grande do Sul. Raízes: Revista De Ciências Sociais E Econômicas, 33(2), 29–52. https://doi.org/10.37370/raizes.2013.v33.388
Seção
Dossiê: Práticas Cotidianas de Resistência

Referências

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