Agricultura empresarial, povos e comunidades tradicionais: lutas simbólicas e negação dos direitos

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Regina Bruno

Resumo




O objetivo deste artigo e? refletir sobre os mecanismos de dominac?a?o simbo?lica presentes no discurso dos representantes dos grandes proprieta?rios de terra e empresa?rios agroindustriais quando dirigidos aos povos e comunidades tradicionais. Busco identificar a natureza de seus argumentos e perceber como as “diferenc?as fundamentais” (Gramsci, 1972) se exprimem na linguagem dessas elites e de seus porta-vozes. De uma perspectiva mais geral, procuro mostrar que, como parte do processo de constituic?a?o do agronego?cio, a ampliac?a?o da representac?a?o e a diversificac?a?o de interesses em comum entre grandes proprieta?rios de terra, produtores rurais e empresa?rios agroindustriais organicamente constitui?dos incidem diretamente no modo como eles atuam junto aos seus adversa?rios, em especial diante da luta dos povos indi?genas e comunidades tradicionais e seus aliados e na produc?a?o de uma linguagem de classe orientada por tre?s grandes argumentos, que se complementam e sa?o acionados dependendo da conjuntura: (1) a desqualificac?a?o dos adversa?rios e de seus aliados; (2) a concepc?a?o de que as criticas a eles enderec?adas sa?o preconceituosas, falsas e equivocadas; e (3) o discurso produtivista e apologe?tico do agronego?cio.




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Como Citar
Bruno, R. (2017). Agricultura empresarial, povos e comunidades tradicionais:: lutas simbólicas e negação dos direitos. Raízes: Revista De Ciências Sociais E Econômicas, 37(2), 27–41. https://doi.org/10.37370/raizes.2017.v37.64
Seção
Artigos

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