Agricultura empresarial, povos e comunidades tradicionais lutas simbólicas e negação dos direitos
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Abstract
O objetivo deste artigo é refletir sobre os mecanismos de dominação simbólica presentes no discurso dos representantes dos grandes proprietários de terra e empresários agroindustriais quando dirigidos aos povos e comunidades tradicionais. Busco identificar a natureza de seus argumentos e perceber como as “diferenças fundamentais” (Gramsci, 1972) se exprimem na linguagem dessas elites e de seus porta-vozes. De uma perspectiva mais geral, procuro mostrar que, como parte do processo de constituição do agronegócio, a ampliação da representação e a diversificação de interesses em comum entre grandes proprietários de terra, produtores rurais e empresários agroindustriais organicamente constituídos incidem diretamente no modo como eles atuam junto aos seus adversários, em especial diante da luta dos povos indígenas e comunidades tradicionais e seus aliados e na produção de uma linguagem de classe orientada por três grandes argumentos, que se complementam e são acionados dependendo da conjuntura: (1) a desqualificação dos adversários e de seus aliados; (2) a concepção de que as criticas a eles endereçadas são preconceituosas, falsas e equivocadas; e (3) o discurso produtivista e apologético do agronegócio.
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