Mercados como ordens sociais: uma alternativa pluralista aos dualismos da sociologia da agricultura

Conteúdo do artigo principal

Paulo Andre Niederle
https://orcid.org/0000-0002-7566-5467

Resumo




A sociologia da agricultura tem presenciado um profi?cuo debate sobre mercados alimentares. No entanto, este debate ainda e? parcialmente obstado por lo?gicas dualistas que opo?em mercados convencionais e alternativos, commodities e singularidades, agronego?cio e agricultura familiar. No debate internacional, uma das expresso?es mais importante deste dualismo revela-se na oposic?a?o entre as abordagens dos “regimes alimentares” e “estilos de agricultura”. Apo?s apresentar os limites das mesmas, o artigo propo?e um novo dia?logo entre a Teoria das Convenc?o?es e Teoria das Pra?ticas para introduzir o conceito de mercados como “ordens sociais”. A partir dele, e com base em pesquisas conduzidas desde 2011 sobre a reestruturac?a?o dos mercados para alimentos orga?nicos, o artigo analisa a configurac?a?o de quatro ordens: ci?vica, este?tica, industrial e tradicional. Cada ordem comporta nexos especi?ficos de pra?ticas sociais, a?s quais esta?o associados dispositivos institucionais e te?cnicos, bem como mu?ltiplos significados e identidades sociais.




Detalhes do artigo

Como Citar
Niederle, P. A. . (2017). Mercados como ordens sociais:: uma alternativa pluralista aos dualismos da sociologia da agricultura. Raízes: Revista De Ciências Sociais E Econômicas, 37(2), 88–101. https://doi.org/10.37370/raizes.2017.v37.68
Seção
Artigos

Referências

ALLEN, P.; KOVACH, M. The capitalist composition of organic: The potential of markets in fulfilling the promise of organic agriculture. Agriculture and Human Values, v. 17, n. 3, p. 221-232, 2000. ALVES, E.; SOUZA, G. S. Pequenos Estabelecimentos também enriquecem? Pedras e tropeços. Revista de Política Agrícola, v. 24, n. 3, p. 7-21, 2015.
ARRIGHI, G. The long twentieth century. Londres, Verso, 1994.
BARBOSA, L. A ética e a estética na alimentação contemporânea. In: CRUZ, F. T.; MATTES, A.; SCHNEIDER, S. (Orgs.). Produção, consumo e abastecimento de alimentos. Porto Alegre, UFRGS, 2006.
BECKERT, J. The social order of markets. Theory & Society, n. 38, p. 245-269, 2009.
BERNSTEIN, H. Capitalism and petty commodity production. Social Analysis, n. 20, p. 11-28, 1986.
BERNSTEIN. H. Dinâmicas de classe da mudança agrária. São Paulo, Unesp, 2011.
BOLTANSKI, L. De la critique: précis de la sociologie de l’émancipation. Paris, Gallimard, 2009.
BOLTANSKI, L.; CHIAPELLO, E. Le nouvel esprit du capitalismo. Paris, Gallimard, 1999.
BOLTANSKI, L.; THÉVENOT, L. De ja justification : les économies de la grandeur. Paris, Gallimard, 1991.
EDELMAN, M.; BORRAS, S.M. Political Dynamics of Transnational Agrarian Movements. Halifax, Fernwood, 2016.
BOURDIEU, P. O campo econômico. Campinas, Papirus, 2000.
BOYER, R. How and why capitalisms differ. Economy and Society, v. 34, n. 4, p. 509-557, 2005.
BRASIL. Plano Nacional de Promoção das Cadeias de Produtos da Sociobiodiversidade, Brasília, Governo Federal, 2009.
BUAINAIN, A. M.; ALVES, E.; SILVEIRA, J.M. ; NAVARRO, Z. Sete teses sobre o mundo rural brasi- leiro. In: _______. (Orgs). O mundo rural no Brasil do século 21. Campinas, Unicamp, 2014.
BUTTEL, F. H. Some Reflections on Late Twentieth Century Agrarian Political Economy. Sociologia Ruralis, v. 41, n. 2, p. 165-181, 2001.
BUSCH, L. Standards: recipes for reality. Cambridge, London, MIT Press, 2011.
CALLON, M. Por uma nova abordagem da ciência, da inovação e do mercado – o papel das redes sociotécnicas. In: PARENTE, A. (Org.) Tramas da rede. Porto Alegre, Sulina, 2004.
CONTINI, E. Exportações na dinâmica do agronegócio brasileiro: oportunidades econômicas e responsabilidade mundial. In: BUAINAIN, A. M; ALVES, E.; SILVEIRA, J. M.; NAVARRO, Z. (Orgs). O mundo rural no Brasil do século 21. Campinas: UNICAMP, 2014.
CRUZ, F.T.; MATTE, A.; SCHNEIDER, S. (Orgs.). Produção, consumo e abastecimento de alimentos. Porto Alegre, UFRGS, 2016.
DEWEY, J. Experience and Nature, Later Works. Carbondale and Edwardsville, Southern Illinois University Press, 1988.
DUPUIS, E. Civic markets: alternative valeu chain governance as civic engagement. Crop Management. 2006. Online: doi:10.1094/CM-2006-0921-09-RV.
ESCHER, F. Agricultura, alimentação e desenvolvimento rural: uma análise institucional comparativa de Brasil e China. Tese de Doutorado. Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Rural. Porto Alegre, UFRGS, 2016.
EYMARD-DUVERNAY, F.; FAVAREAU, O.; ORLEAN, A.; SALAIS, R.; THÉVENOT, L. Valeurs, coor- dination et rationalité : trois thèmes mis en relations par l’économie des conventions. In: EYMARD-DU- VERNAY, F. (Org.). L’économie des conventions: méthodes et résultats. Paris, La Découverte, 2006.
FERNANDES, B. Questão agrária e capitalismo agrário: o debate paradigmático de modelos de desenvolvimento para o campo. Reforma Agrária, v. 35, n. 2, p. 41-54, 2014.
FLIGSTEIN, N. The sociology of markets. Annual Review of Sociology. n. 33, p. 105-128, 2007. FONSECA, M. F. Tensions continues over Brazilian certification process”. The Organic Standard, n. 24,
FRIEDMANN, H. Commentary: Food regime analysis and agrarian questions: widening the conversation. Journal of Peasant Studies, v. 43, n. 3, p. 671-692, 2016.
FRIEDMANN, H.; MCMICHAEL, P. Agriculture and the State system: the rise and decline of national
agricultures, 1870 to the Present. Sociologia Ruralis, v. 29, n. 2, p. 93-117, 1989.
GAZOLLA, M.; SCHNEIDER, S. (Org.). Cadeias curtas e redes agroalimentares alternativas: negócios e mercados da agricultura familiar. Porto Alegre, UFRGS, 2017.
GEELS, F.W. Processes and patterns in transitions and system innovations: refining the co-evolutionary multi-level perspective. Technological Forecasting & Social Change, n. 72, p. 681-696, 2005. GIDDENS, A. A constituição da sociedade. São Paulo, Martins Fontes, 1989.
GOODMAN, D. Rural Europe Redux? Reflections on Alternative Agro-Food Networks and Paradigm Change. Sociologia Ruralis, v. 44, n. 1, p. 3-16, 2004.
GOODMAN, D.; DUPUIS, E.; GOODMAN, M. Alternative Food Networks: knowledge, practice and politics. London, Routledge, 2012.
GRANOVETTER, M. Economic action and social structure: the problem of embeddedness. American Journal of Sociology, v. 91, p. 481-510, 1985.
GUIVANT, J. S. Os supermercados na oferta de alimentos orgânicos: apelando ao estilo de vida ego- trip. Ambiente e Sociedade, v. 6, n. 2: p. 63-82, 2003.
HARDT, M.; NEGRI, A. Império. Rio de Janeiro, Record, 2001.
HARVEY, D. O novo imperialismo: acumulação por espoliação. Socialist Register, v. 40, p. 95-126, 2004.
HEBINCK, P. Maize and socio-technical regimes. In: HEBINCK, P; VERSCHOOR, G. (Eds), Resonances and dissonances in development actor, networks and cultural repertoires, Assen: Van Gorcum, 2001. LAW, J. Organizing modernity. Oxfor, Blackwell, 1994.
LONG, N. Development sociology: actor perspectives. London, Routledge, 2001.
LONG, N.; LONG, A. Battlefields of knowledge. London, Routledge, 1992.
LONG, N.; PLOEG, J.D.; CURTIN, C.; BOX, L. The commoditization debate: labour process, strate- gy and social network. Wageningen: Wageningen Agricultural University, 1986.
LONG, N.; PLOEG, J. D. Heterogeneity, actor and structure: towards a reconstitution of the concept of structure. In: BOOTH, D. (Ed.). Rethinking Social Development: Theory, Research and Practice. Harlow: Longman, 1994.
MALUF, R.; BURLANDY, L.; SANTARELLI, M.; SCHOTTZ, V.; SPERANZA, J. Nutrition-sensitive agriculture and the promotion of food and nutrition sovereignty and security in Brazil. Ciência & Saúde Coletiva, n. 20, p. 2303-2312, 2015.
MARCH, J.; OLSEN, J. Elaborating the ‘‘new institutionalism”. In: RHODES, R.; BINDER, S.; ROCK- MAN, B. (Eds). Oxford Handbooks of Political Institutions. Oxford, Oxford University Press, 2006.
MARQUES, F. Nicho e novidade: nuanças de uma possível radicalização inovadora na agricultura. In: SCH- NEIDER, S.; GAZOLLA, M. (Orgs.). Os atores do desenvolvimento Rural. Porto Alegre, UFRGS, 2011.
MARQUES, F.; CONTERATO, M. A., SCHNEIDER, S. (Orgs.). Construção de mercados e agricultura familiar: desafios para o desenvolvimento rural. Porto Alegre: UFRGS, 2016.
MARQUES, R. Introdução: os trilhos da nova sociologia econômica. In: MARQUES, R.; PEIXOTO, J. (Orgs.). A nova sociologia económica. Oeires, Celta, 2003.
McMICHAEL, P. Commentary: Food regime for thought”. Journal of Peasant Studies, v. 43, n. 3, p. 648-670, 2016.
McMICHAEL, P. A food regime genealogy. Journal of Peasant Studies, v. 36, n. 1, p. 139-169, 2009. MIELE, M., MURDOCH, J. The practical aesthetics of traditional cuisines: Slow food in Tuscany. Sociologia Ruralis, v. 42, n. 4, p. 312-328, 2002.
MURDOCH, J. Networks: a new paradigm of rural development?. Journal of Rural Studies, v. 16, p. 407-419, 2000.
NIEDERLE, P. A pluralist and pragmatist critique of food regime’s genealogy: varieties of social orders in Brazilian agriculture. Journal of Peasant Studies, p. 1-23, 2017. https://doi.org/10.1080/03066150. 2017.1313238
NIEDERLE, P. Os agricultores ecologistas nos mercados para alimentos orgânicos: contramovimentos e novos circuitos de comércio. Sustentabilidade em Debate, n. 5, p. 79-96, 2014.
NIEDERLE, P. Mercados como arenas de luta por reconhecimento: disputas morais na construção dos dispositivos de qualificação dos alimentos. Política & Sociedade, n. 15, p. 97-130, 2016.
NIEDERLE, P.; ESCHER, F.; CONTERATO, M. Estilos de agricultura: capturando a diversidade do ru- ral contemporâneo. In: CONTERATO, M.; RADOMSKY, G.; SCHNEIDER, S. (Orgs.). Pesquisa em de- senvolvimento rural: aportes teóricos e proposições metodológicas. Porto Alegre, UFRGS, 2014.
NIEDERLE, P.; SCHUBERT, M.; SCHNEIDER, S. Agricultura familiar, desenvolvimento rural e um modelo de mercados múltiplos. In: Doula; S.; Fiúza, A.; Teixeira, E.; Reis,J.; Lima, A. (Org.). A agricultura familiar em face das transformações na dinâmica recente dos mercados. Suprema, 2014. pp. 43-68.
PLOEG, J. D. Camponeses e impérios alimentares. Porto Alegre: UFRGS, 2008.
PLOEG, J. D. O modo de produção camponês revisitado. In: SCHNEIDER, S. (Org.). A diversidade da agricultura familiar. Porto Alegre: UFRGS, 2006.
PLOEG, J. D. Styles of farming: an introductory note on concepts and methodology. In: PLOEG, J. D.; LONG, A. (Eds.). Born from within: practices and perspectives of endogenous rural development. Assen, Van Gorcum, 1994.
RADOMSKY, G.F.; NIEDERLE, P.; SCHNEIDER, S. Participatory systems of certification and alterna- tive marketing networks: the case of Ecovida Agroecology Network in South Brazil. In: HEBINCK, P.; PLOEG, J. D.; SCHNEIDER, S. (Eds.). Rural Development and the Construction of New Markets, The Hague, Routledge, 2016.
RAUD-MATTEDI, C. A construção social do mercado em Durkheim e Weber: análise do papel das institui- ções na sociologia econômica clássica. Revista Brasileira de Ciências Sociais, v. 20, n. 57, p. 127-208, 2005.
SALAIS, R.; STORPER, M. The four “worlds” of the contemporary industry”. Cambridge Journal of Economics, n. 16, p. 169-193, 1992.
SAUER, S. Terra no século XXI: desafios e perspectivas da questão agrária. Retratos de Assentamentos, n. 19, p. 69-97, 2016.
SCHATZKI, T. The site of the social. University Park, PA: Pennsylvania State University Press, 2002. SCHATZKI, T. Practice mind-ed orders. In: SCHATZKI, T.; CETINA, K.; SAVIGNY, E. (Ed.). The practice turn in contemporary theory. London-New York, Routledge, 2001.
SCHATZKI, T.; CETINA, K.; SAVIGNY, E. The practice turn in contemporary theory. 3. ed. London-New York, Routledge, 2001.
SCHNEIDER, S. Mercados e agricultura familiar. In: MARQUES, F.; CONTERATO, M.; SCHNEI- DER, S. (Orgs.). Construção de mercados e agricultura familiar: desafios para o desenvolvimento rural. Porto Alegre, UFRGS, 2016.
SCHNEIDER, S.; GAZOLLA, M. Os atores do desenvolvimento Rural. Porto Alegre, UFRGS, 2012. SCOTT, W. R. Institutions and Organizations. Thousand Oaks: Sage, 1995.
THELLEN, K. Varieties of Capitalism: Trajectories of Liberalization and the New Politics of Social Solidarity. Annual Review of Political Science, v. 15, n. 1, p. 137-159, 2012.
THÉVENOT, L. Organized complexity: conventions of coordination and the composition of economic arrangements. European Journal of Social Theory, v. 4, n. 4, p. 405-425, 2001.
WALLERSTEIN, I. El Modierno Sistema Mundial. México, Siglo Veintiuno, 1979.
WEBER, M. Economia e Sociedade: fundamentos da sociologia compreensiva. Vol. 1 e 2. Brasília, UnB, 2000.
WESZ JUNIOR, V. Strategies and hybrid dynamics of soy transnational companies in the Southern Cone. Journal of Peasant Studies, n. 43, p. 1-27, 2016.
WHITE, H. Markets from networks. Princeton, Princeton University Press, 2001.
WILKINSON, J. Markets and Networks in Global Social Movements. Journal of Consumer Policy, n. 1, p. 56-64, 2007.
WILKINSON, J. Mercados, redes e valores. Porto Alegre, UFRGS, 2008.
WILKINSON, J.; GOODMANN, D. Les analyses en terme de ‘food regime’: une relecture. In : AL- LAIRE, G.; DAVIRON, B. (Eds.). Transformations agricoles et agrolaimentaires: entre écologie et capitalisme. Versailles, Quae, 2017.