Da terra à mesa produção para autoconsumo e a segurança alimentar e nutricional
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Abstract
O artigo foi construído a partir dos resultados da pesquisa realizada no âmbito do Programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Regional da UTFPR - Campus de Pato Branco, entre os anos de 2020 e 2021. O objetivo é analisar como as famílias agricultoras do município de Ampere, no sudoeste do Paraná, compreendem a relação da sua produção de alimentos destinada ao autoconsumo com a Segurança Alimentar e Nutricional. A pesquisa qualitativa foi realizada por meio de entrevistas com famílias agricultoras que revelaram a diversidade de situações produtivas e socioeconômicas do município (10 famílias), com base em formulário semiestruturado e registro em diário de campo. A produção de autoconsumo para essas famílias tem relação com a qualidade do alimento, saúde, tradição/cultura, economia e afetividade. Os alimentos por eles/elas produzidos são valorizados por possuírem uma qualidade nutricional superior aos alimentos comprados, pela confiança no saber-fazer tradicional e na ausência de agrotóxicos, retratando uma segurança ontológica. A produção de autoconsumo é, também, um elemento capaz de fortalecer o vínculo da família com o lugar em que vive e de dar continuidade à sua tradição em produzir alimentos para a família, assumindo um papel de resistência a partir da reflexividade que incorpora a crítica aos alimentos/produtos industrializados, em especial os ultraprocessados, mesmo quando, por vezes, fazem parte de compras destinadas às crianças, ao mesmo tempo procuram manter seu modo de viver – do plantar, colher e consumir seu próprio alimento –, o que denota maneiras de se manterem seguros frente às incertezas e riscos dos alimentos “modernos”.
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