Dos acordos cotidianos aos cercamentos à casa grande ressignificações simbólicas na experiência das Ligas Camponesas na Paraíba (1954-1964)
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Abstract
O artigo analisa as ressignificações da moralidade do trabalho autônomo dos moradores que participaram das Ligas Camponesas na Paraíba, entre 1954 e 1964, comparando os valores e símbolos mobilizados nos acordos cotidianos, que eram uma das formas de resistência cotidiana – como trabalhadas por James Scott (2000) –, e os formulados nos cercamentos à casa grande, que eram parte do repertório de ação coletiva – como trabalhado por Charles Tilly (1993; 2005; 2010) – do movimento. O fito desta investigação foi observar as continuidades e descontinuidades entre estas duas formas de resistência, sendo que tomamos a hipótese de que os tensionamentos das relações entre moradores e grandes proprietários, realizados pelas formas cotidianas de resistência, teriam fundamentado os principais símbolos e valores adotados pelas Ligas. A pesquisa concluiu que o cercamento à casa grande reformulou a experiência do acordo cotidiano, mas expressando uma mudança nas narrativas dos moradores, visto que estes passaram a ver o acesso à terra como sendo possível através da contraposição aos grandes proprietários. O artigo realiza uma análise narrativa tendo como referencial metodológico a Hermenêutica de Profundidade (J. B. Thompson 2011).
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