Mudanças nas políticas públicas para a agricultura familiar no Brasil: novos mediadores para velhos referenciais

Conteúdo do artigo principal

Catia Grisa
https://orcid.org/0000-0001-6685-4875

Resumo




O artigo analisa o modo como diferentes compreenso?es da sociedade e economia brasileiras influenciaram as poli?ticas pu?blicas para a agricultura familiar ao longo dos u?ltimos 20 anos. Dialogando com a abordagem cognitiva de ana?lise de poli?ticas pu?blicas, o artigo analisa essa trajeto?ria a partir das noc?o?es de referencial global, referencial setorial e mediadores de poli?tica pu?blica. O estudo aponta que, ao longo dos 20 anos, dois referenciais globais (neoliberalismo e neodesenvolvimentismo) influenciaram as interpretac?o?es sobre o setor, alterando as relac?o?es de poder entre os atores envolvidos com as questo?es da agricultura familiar, da agricultura e do rural brasileiro, dando “palavra” a novas e diferentes ideias e interpretac?o?es. No peri?odo recente “novos mediadores” (atores que vinham tentando influenciar as poli?ticas para a agricultura familiar no referencial global neodesenvolvimentista) angariaram espac?o poli?tico, reativaram e recontextualizaram o referencial global neoliberal, e ajustaram as poli?ticas para a categoria social de acordo com este.




Detalhes do artigo

Como Citar
Grisa, C. (2018). Mudanças nas políticas públicas para a agricultura familiar no Brasil:: novos mediadores para velhos referenciais. Raízes: Revista De Ciências Sociais E Econômicas, 38(1), 36–50. https://doi.org/10.37370/raizes.2018.v38.37
Seção
Dossiê: Políticas Públicas para a Agricultura Familiar na A. Latina e Caribe

Referências

ABERS, R.; SERAFIM, L.; TATAGIBA, L. Repertórios de interação Estado-sociedade em um Estado heterogêneo: a experiência na Era Lula. Dados, v. 57, n. 2, p. 325-357, 2014.
ALVES, E.; ROCHA, D. P. Ganhar tempo é possível?. In: GASQUES, J. G.; VIEIRA FILHO, J. E.R.; NAVARRO, Z. A agricultura brasileira: desempenho recente, desafios e perspectivas. Brasília: Ipea/Mapa, 2010.
ANJOS, J.C.G.; SAN?ANA JUNIOR, H.A.; BRUSTOLIN, C. Projetos de desenvolvimento e populações locais: experiências em Cabo Verde e no Brasil. Revista da Pós-Graduação de Ciências Sociais, v. 13, n. 26, jul/dez, 2016. BANCO MUNDIAL. Banco Mundial Brasil: uma parceria de resultados. Brazil: the management of agriculture, rural development and natural resources. Report no. 11783-BR, v.I, 1994.
BASTOS, P.P.Z. Ascensão e crise do Governo Dilma Roussef e o Golpe de 2016: poder estrutural, contradição e ideologia. Revista de Economia Contemporânea, número especial, p. 1-63, 2017.
_______. Austeridade permanente? A crise global do capitalismo neoliberal e as alternativas no Brasil. BELLUZO, L.G.M.; BASTOS, P.P.Z. Austeridade para quem? Balanço e perspectivas do governo Dilma Rousseff. São Paulo: Carta Maior, 2015.
_______. A economia política do novo-desenvolvimentismo e do social desenvolvimentismo. Economia e Sociedade, v. 21, p. 779-810, 2012.
BELLUZO, L.G.M.; BASTOS, P.P.Z. Austeridade para quem? Balanço e perspectivas do governo Dilma Rousseff. São Paulo: Carta Maior, 2015.
BOITO, A. A crise política do neodesenvolvimentismo e a instabilidade da democracia. Crítica marxista, n. 42, p. 155-162, 2016.
_______. As bases políticas do neodesenvolvimentismo. Fórum Econômico da FGV, São Paulo, 2012. BRASIL, MINISTÉRIO DA AGRICULTURA E DO ABASTECIMENTO. PRONAF: construindo as instituições do desenvolvimento rural. Brasília (DF): Secretaria de Desenvolvimento Rural/MAARA, 1998.
BRASIL, MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO. Um novo Brasil rural. Ministério do Desenvolvimento Agrário 2003/2010. Brasília: MDA, 2010.
BRESSER- PEREIRA, L.C. Reflexões sobre o Novo Desenvolvimentismo e o Desenvolvimentismo Clássico. Revista de Economia Política, v. 36, n.2, p. 237-265, 2016.
BUAINAIM, A.M. et al. O mundo rural no Brasil do século 21: a formação de um novo padrão agrícola e agrário. Brasília: 2014.
BUAINAIM, A.M.; SOUZA FILHO, H.M. Política agrícola no Brasil: evolução e principais intrumentos. In: BATALHA, M.O. Gestão Agroindustrial. São Paulo: Editora Atlas S.A, 2001.
CASTRO, E.G.; BARCELOS, S.B. Políticas públicas para a juventude rural brasileira. In: GRISA, C.; SCHNEIDER, S. Políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2015, p. 549-571.
COELHO, C.N. O Plano Real e o Desempenho da Agricultura. Revista de Política Agrícola, ano IV, no. 4, out.-dez, p. 17-27, 1997.
CONFEDERAÇÃO NACIONAL DA AGRICULTURA. Quem produz o que no campo: quanto e onde II: censo agropecuário 2006: resultados: Brasil e regiões. Brasília: CNA, 2010.
CONTI, I.L. Organizações sociais e políticas públicas: inserção da Fetraf-Sul nas políticas públicas de segurança alimentar e nutricional. Tese. Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural (PG- DR-UFRGS). 2016.
DELGADO, G.C. Do capital financeiro na agricultura à economia do agronegócio: mudanças cíclicas em meio século (1965-2012). Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2012.
DELGADO, N.G. O papel do rural no desenvolvimento nacional: da modernização conservadora dos anos 1970 ao Governo Lula. In: DELGADO, N.G. Brasil rural em debate: coletânea de artigos. Brasília (DF): CONDRAF/NEAD, 2010, p.28-78.
FAURE, A.; POLLET, G.; WARIN, P. La construction du sens dans les politiques publiques: débats au- tour de la notion de référentiel. Paris: Éditions L’Harmattan, 1995.
FAVARETO, A. Concepções de desenvolvimento e de intervenção pública no Brasil rural sob o Governo Temer e Além. Revista Raízes, v.37, n. 2, p. 07-26, 2017.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF UNITED NATION, Scalling up the Brazilian School Feeding model: using south-south cooperation to chare Brazil experience of school feeding in Latin America and the Caribbean, Rome, 2014a.
FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION OF UNITED NATION. The state of food and agriculture : innovation in family farming. Roma: FAO, 2014.
FRANÇA, C.G. ; MARQUES, V.P.M.A. ; GROSSI, M.E. Superação da fome e da pobreza rural : iniciativas brasileiras. Brasília: FAO, 2016.
FLEURY, L. Conflito ambiental e cosmopolíticas na Amazônia brasileira: a construção da Usina Hidrelétrica de Belo Monte em perspectiva. Tese (Doutorado em Sociologia). Programa de Pós-Graduação em Sociologia – UFRGS, 2013.
GRISA, C. Políticas públicas para a agricultura familiar no Brasil: produção e institucionalização das ideias. Tese (Tese de Doutorado em Ciências Sociais) – Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade/UFRRJ, 2012.
GRISA, C.; SCHNEIDER, S. Políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil. Porto Alegre: Edi- tora da UFRGS, 2015.
JOBERT, B. Représentations sociales controverses et débats dans la conduite des politiques publiques. Revue française de science politique, n.2, p.219-234,1992.
JOBERT, B.; MULLER, P. L’état en action. Paris: PUF, 1987.
JONES, M.; MCBETH, K. A narrative policy framework: clear enough to be wrong? The policy studies journal, v. 38, n. 2, 2010.
KINGDON, J. Agendas, alternatives and public policies. Boston (Mass): Little, Brown and Co, 1984.
LEITE, A.Z. Decreto 9.311/2018: A legalização da especulação das terras carimbadas para a reforma agrária. Brasília, ABRA – Associação Brasileira de Reforma Agrária, 2018.
LEITE, A.Z.; CASTRO, L.F.P.; SAUER, S. A questão agrária no momento político brasileiro: liberalização e mercantilização da terra no estado mínimo de Temer. Revista OKARA: Geografia em Debate, v.12, n.2, p. 247-274, 2018.
LEITE, S.P. Padrão de financiamento, setor público e agricultura no Brasil. In: LEITE, S.P. Políticas públicas e agricultura no Brasil. Porto Alegre (RS): Editora da Universidade, 2001, p. 53-93.
LEITE, S.P. et al. Impactos dos assentamentos: um estudo sobre o meio rural brasileiro.Brasília: NE- AD, 2004.
MASSARDIER, G. Cognição, políticas e ações públicas: entre coerência, fragmentação e aprendizados. In: BONNAL, P.; LEITE, S.P. (Org.) Análise comparada de políticas agrícolas: uma agenda em transformação. Rio de Janeiro (RJ): Cirad/Mauad X, 2011, p. 69-91.
MATTEI, L. A política agrária do Governo Temer (2016-2018). In: 56° Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER). Sessão Organizada, 2018.
_______. O governo interino e a desestruturação da política agrária e de desenvolvimento rural no país. Texto para discussão 018/2016, 2016.
_______.O papel e a importância da agricultura familiar no desenvolvimento rural brasileiro contemporâneo. Revista Econômica do Nordeste, v. 45, p. 71-79, 2014.
_______. Gênese e agenda do novo desenvolvimentismo brasileiro. Revista de Economia Política, v. 33, n.1, p. 41-59, 2013.
_______. Institucionalidade e protagonismo político: os dez anos do Confraf. Brasília: MDA, 2010.
_______. PRONAF 10 anos: mapa da produção acadêmica. Brasília (DF): MDA, 2006.
MATTOS, L.M. Desestruturação das políticas públicas voltadas à agricultura familiar brasileira. In: 56° Congresso da Sociedade Brasileira de Economia, Administração e Sociologia Rural (SOBER). Sessão Organizada, 2018.
MEDEIROS, L. S. de. Movimentos sociais, disputas políticas e reforma agrária de mercado no Brasil. Rio de Janeiro: CPDA/UFRRJ e Unrisd, 2002
_______S. Sem terra, “assentados”, “agricultores familiares”: considerações sobre os conflitos sociais e as formas de organização dos trabalhadores rurais brasileiros. In: GIARRACCA, N. Una nueva ruralidad en América Latina? Buenos Aires: CLACSO, 2001.
MEDEIROS, R.S.; GODOY, J.H.A. Desenvolvimento, territorio e políticas sociais: SUAPE e uma nova agenda de pesquisa sobre os impactos sociais de grandes projetos. Revista da Pós Ciências Sociais, v. 12, n. 24, 2015.
MIELITZ NETTO, C. G.A. Agricultura familiar no contexto das políticas públicas brasileiras. In: MANZANAL, M.; NEIMAN, G. Las agriculturas familiares del Mercosur: trayectorias, amenazas y desafios. Buenos Aires: CICCUS, 2010, p.61-77.
MOLLO, M.L.R.; FONSECA, P.C.D. Desenvolvimentismo e novo-desenvolvimentismo: raízes teóricas e precisões conceituais. Revista de Economia Política, v, 33, n.2, p. 222-239, 2013.
MOTA, D.M.; SCHMITZ, H. Políticas públicas e comunidades tradicional: reconhecimento e conquista de direitos? In: GRISA, C.; SCHNEIDER, S. Políticas públicas de desenvolvimento rural no Brasil. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2015, p. 533-548.
MULLER, Pierre. Les politiques publiques. 7ed. Paris: PUF, 2008.
_______. Esquisse d’une théorie du changement dans l’action publique: structures, acteurs e cadres co-
gnitifs. Revue française de sciense politique, v.55, n.1, p. 155-187, 2005.
_______. L’analyse cognitive des politiques publiques: vers une sociologie politique de l’action publique.
Revue française de sciense politique, v.50, n.2, p. 189-207, 2000.
_______. Les politiques publiques comme construction d’un rapport au monde. In: FAURE, Alain; POLLET, Gilles; WARIN, Philippe. La construction du sens dans les politiques publiques: débats au- tour de la notion de référentiel. Paris: Éditions L’Harmattan, 1995, p. 153-179.
ORGANIZAÇÃO DAS NAÇÕES UNIDAS PARA AGRICULTURA E ALIMENTAÇÃO (FAO)/INSTI- TUTO NACIONAL DE COLONIZAÇÃO E REFORMA AGRÁRIA (INCRA). Diretrizes de política agrária e desenvolvimento sustentável para a pequena produção familiar. Brasília (DF): FAO/INCRA, 1994.
PAIVA, A.B. et al. O novo regime fiscal e suas implicações para a política de assistência social no Brasil. Nota técnica n°.27, IPEA, 2016.
PICOLOTTO, E.L. As mãos que alimentam a nação: agricultura familiar, sindicalismo e política. Te- se (Doutorado de Ciências Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade) – Programa de Pós-Graduação de Ciência Sociais em Desenvolvimento, Agricultura e Sociedade (CPDA/UFRRJ). Rio de Janeiro (RJ), 2011.
POLLET, G. Analyse des politiques publiques et perspectives théoriques. In: FAURE, A.; POLLET, G.; WARIN, P. La construction du sens dans les politiques publiques: débats autour de la notion de référen- tiel. Paris: Éditions L’Harmattan, 1995, p. 25-47.
RADAELLI, C.M. Logiques de pouvoirs et récits dans les politiques publiques de l’Union Européene. Revue française de science politique, v. 50, n.2, p.255-275, 2000.
REZENDE, G.C. Políticas de preços na década de 90: dos velhos aos novos instrumentos. In: Leite, S.P. Políticas públicas e agricultura no Brasil. Porto Alegre (RS): Editora da Universidade, 2001, p. 121-144.
SALLUM JR. B. Metamorfoses do Estado brasileiro no final do século XX. Revista brasileira de ciência sociais, v.18, no.52, p. 35-54, 2003.
SAUER, S. Medida provisória ou de exceção? Decreto regulamentando a grilagem. Artigo DataLuta, abril de 2018.
_______. “Reforma agrária de mercado” no Brasil: um sonho que se tornou dívida. Estudos Sociedade e Agricultura (UFRJ), v. 18, p. 98-126, 2010.
SAUER, S.; LEITE, A.Z. Medida Provisória 759: descaminhos da reforma agrária e legalização da grilagem de terras no Brasil. Retratos de assentamentos, vol. 20, p. 14-40, 2017.
SCHNEIDER, S.; CAZELLA, A.; MATTEI, L. Histórico, caracterização e dinâmica recente do Pronaf - Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar. In: SCHNEIDER, S.; SILVA, M.K.; MARQUES, P.E.M. (Orgs.) Políticas públicas e participação social no Brasil rural. Porto Alegre (RS): Editora da UFRGS, 2004. p.21-49.
SILIPRANDI, E.; CINTRÃO, R. Mulheres rurais e políticas públicas no Brasil: abrindo espaços para o seu reconhecimento como cidadãs. In: GRISA, C.; SCHNEIDER, S. Políticas públicas de desenvolvi- mento rural no Brasil. Porto Alegre: Editora da UFRGS, 2015, p. 571-594.
SISCU, J.; PAULA, L.F.; MICHEL, R. Por que novo-desenvolvimentismo ? Jornal dos Economistas n. 186, 2005.
SMYRL, Marc. Regulation institutionelle et dynamique du politique: vers um programme de recherche international et trans-sectoriel em politique publique. Paris: Centre d’Etude Politique de l’Europe Lati- ne, 2006.
SOARES, S. et al. Perfil da pobreza: Norte e Nordeste rurais. Brasília: PNUD, 2016.
SOLDERA, D. A instabilidade do referencial de políticas públicas para a agricultura familiar no Brasil: uma análise das narrativas dualistas. Dissertação (Programa de Pós-Graduação em Desenvolvimento Rural – PGDR/UFRGS). Porto Alegre: UFRGS, 2017.
WARIN, P. Les politiques, multiplicité d’arbitrages et construction de l’ordre social. In: FAURE, A.; POLLET, G.; WARIN, P. La construction du sens dans les politiques publiques: débats autour de la notion de référentiel. Paris: Éditions L’Harmattan, 1995, p.85-101.