Ancestralidade, trabalho, terra memória e identidade na construção coletiva dos quilombos de Pedra D’água e de Vaca Morta-PB
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Abstract
Neste artigo apresento aspectos históricos, sociais e da ordem do simbólico, constitutivos de dois quilombos do estado da Paraíba: Pedra D’água e Vaca Morta. Localizados, respectivamente, no agreste e sertão, ambos possuem trajetórias diferentes, mas também aspectos comuns. No primeiro quilombo, o ancestral fundador, Manuel Paulo Grande, evadiu-se para a mata dos arredores da cidade de Ingá para fugir das perseguições policiais por conta de seu envolvimento com o Movimento Quebra-Quilos (1874). No segundo quilombo, o ancestral fundador, Manuel Severino, sob ordens do patrão, saiu do estado do Ceará no ano de 1905 para administrar as terras da Paraíba. O patrão possuía vastas quantidades de terras nos dois estados. Neste caso, sua descendência estabelecida numa de suas fazendas, continuara com os patrões a relação de subalternização negociada. Mesmo com processos históricos particulares, os integrantes dos dois quilombos, de forma recorrente, evocam em suas memórias e narrativas a figura do ancestral fundador enquanto referencial primordial enlaçando, através das relações de parentesco biológico e espiritual, a vida de todos e de cada um. Ao mesmo tempo, em suas narrativas o sentimento de pertença é afirmado e reforçado pelas lembranças partilhadas quanto ao trabalho naquelas terras. Trabalho este realizado pelas gerações de seus descendentes, incluindo a atual. O trabalho produtivo e gerador de alimentos e bens das várias gerações, moldara e transformara a terra. Ainda outro elemento importante fortalecendo o sentimento de pertença diz respeito ao campo do sagrado. Nos dois quilombos, seus integrantes apontam alguns locais como marcos significativos dos que morreram como também do dever da devoção. Por fim, a dinâmica das relações interna e com a sociedade envolvente, passa por estratégias coletivas. Estas, por sua vez, são orientadas pelo parentesco, fonte importante do sentimento de grupo, como também pela memória coletiva depositada nos mais velhos e partilhada por todos.
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