Gente de reputação, pestes e secas retalhos históricos da desigualdade social e “epidêmica” nos Sertões nordestinos

Conteúdo do artigo principal

Aldo Manoel Branquinho Nunes
https://orcid.org/0000-0002-0365-4259
Valdenio Freitas Meneses
https://orcid.org/0000-0002-1914-9265

Resumo

“Mazela”, “Cranco”, “Grenguena”, “Bobonhica”, “Febetife”, “Febre do Rato”, “Gota Serena”, “Bexiga Lixa”, “O Bute”, “Miséria” e “Desgraça”. Esses termos até hoje presentes no vocabulário e sotaques de pessoas de áreas do sertão nordestino – e usualmente utilizados como palavrões – são vocábulos cujas origens e usos remetem a uma longa história de flagelos e doenças. Este artigo é fruto de um exercício de pesquisa que tentou analisar as repercussões sociais de eventos epidêmicos ocorridos no Nordeste brasileiro, na segunda metade do século XIX e no início do século XX. Sob os auspícios do ferramental da sociologia histórica e colocando a discussão em função dos debates sobre as secas e estiagens nos sertões nordestinos, analisamos os processos sociais decorrentes da epidemia da cólera em Pernambuco, entre 1854 e 1856, da varíola no Ceará, no ano de 1877, e da febre tifóide, em obras de açudagem na Paraíba, em 1932. Devotamosatenção especial ao quadro de representações em torno das doenças, às relações de poder e aos posicionamentos sociais, num contexto de recrudescimento das desigualdades sociais. Para tanto, consultamos obras de memorialistas e documentação disponível no Arquivo Público Jordão Emerenciano (APEJE), dentre ela, os fundos contendo ofícios das Câmaras Municipais e Leis Provinciais de Pernambuco. Em seguida, realizamos a leitura analítica de livros de assentos eclesiásticos de óbitos (1855-1863) da Freguesia da Ingazeira, de relatórios dos presidentes das províncias de Pernambuco, Ceará e Paraíba, de relatórios de obras de açudagem e de periódicos que publicaram notícias sobre cada um desses períodos epidêmicos.

Detalhes do artigo

Como Citar
Branquinho Nunes, A. M., & Freitas Meneses, V. (2025). Gente de reputação, pestes e secas: retalhos históricos da desigualdade social e “epidêmica” nos Sertões nordestinos. Raízes: Revista De Ciências Sociais E Econômicas, 45(1), 65–84. https://doi.org/10.37370/raizes.2025.v45.906
Seção
Dossiê: Expedições científicas, inventários, pestes e epidemias no mundo rural brasileiro
Biografia do Autor

Aldo Manoel Branquinho Nunes, Universidade Estadual da Paraíba

Doutor em Ciências Sociais. Técnico-administrativo lotado na Pró-Reitoria de Extensão da Universidade Estadual da Paraíba (PROEX/UEPB. Sócio-fundador do Centro de Pesquisa e Documentação do Pajeú (CPDOC-PAJEÚ).

Valdenio Freitas Meneses, Universidade Federal de Campina Grande

Doutor em Ciências Sociais. Professor da Unidade Acadêmica de Ciências e Tecnologia Ambiental (UACTA) e do Programa de Pós-Graduação de Ciências Sociais (PPGCS) da Universidade Federal de Campina Grande (UFCG).

Referências

ALBUQUERQUE, U. L. Um sertanejo e o sertão. Moxotó brabo. Três ribeiras; reminiscências e episódios do quotidiano no interior de Pernambuco. Ed. comemorativa do centenário de nascimento do autor. Belo Horizonte, Itatiaia, 1989.

ALBUQUERQUE Jr., D. As imagens retirantes: a constituição da figurabilidade da seca pela literatura do final do século XIX e do início do século XX. Varia Historia, Belo Horizonte, vol. 33, n. 61, jan/abr 2017, p. 225-251. Disponível em < http://www.scielo.br/scielo.php?script=sci_arttext&pid=S0104-87752017000100225> Acesso em abril de 2020.

ARAUJO, A.I e MACEDO, M.K. O sertão febril: impacto microbiano e escravidão nos espaços (in)salubres da Província do Rio Grande do Norte, Ribeira do Seridó (1856-1888), Mneme – Revista de Humanidades, 12(30) jul-dez, 2011, p. 343-352.

ARRUDA MELO, J O.. Ideologia E Espaco Social Em Orris Barbosa - Ensaio Critico Sobre Secca De 32 - Mossoró/RN: Fundação Vingt-Un Rosado, 1999.

CASTRO NEVES, F. A multidão e a história: saques e outra ações de massas no Ceará. Rio de Janeiro, Dumará, 2000.

CHAHLOUB, S. Cidade febril : cortiços e epidemias na Corte imperial / 2a ed. — São Paulo : Companhia das Letras, 2017.

DANDARO, F e MARCONDES, R. Obras públicas no contexto regional: secas e gastos no Nordeste brasileiro (1860-1940). Revista Economia do Nordeste, Fortaleza, v. 49, jul/set 2018, p. 113-127. Disponível em < https://ren.emnuvens.com.br/ren/article/download/777/730 > Acesso em Abril de 2020.

FERREIRA NETO, C. 1915: a história dos cearenses no ano da seca, Fortaleza, Premius, 2015.

GARCIA Jr., A. Os vice-reis do Norte: reconversão de elites agrárias e a Revolução de 1930 (1920-1964). Revista de Ciências Sociais, UFC, v. 38 (02), 2007, p. 74-87.

GOULART, A. da C.: Revisitando a espanhola: a gripe pandêmica de 1918 no Rio de Janeiro.?História, Ciências, Saúde – Manguinhos,?v. 12, n. 1, p. 101-42, jan.-abr. 2005.

MALVIDO, E. El camino de la primera viruela en el nuevo mundo, del caribe a Tenochtitlán, 1493-1521, Revista Cultura y Religion. 2008, p. 2-12

MARTINS, N. Santa Casa dos Mortos: ritos fúnebres, mortalidade e relações de poder na Paraíba oitocentista. Tese de Doutorado em História apresentada no PPGH/UFPE, 2019.

MOTA TRAVASSOS, L. Uma história não contada: o campo de concentração para flagelados de 1915 em Fortaleza–Ceará. V Colóquio de História: perspectivas históricas, 2011, p.717-730.

NETO, L. Posfácio In: TEÓFILO, R. A Fome, São Paulo, Tordesilhas, 2011, p. 363-371.

NUNES, A. M. B. Currais, cangalhas e vapores: dinâmicas de fronteira e conformação das estruturas social e fundiária nos “Sertões da Borborema” (1780-1920), 429f. Tese (Doutorado em Ciências Sociais). Universidade Federal de Campina Grande, Campina Grande, 2017.

OLIVEIRA, I. Construção do açude Engenheiro Ávidos: narrativas silenciadas das vítimas da seca e do progresso (São José de Piranhas/PB, 1920-1980) / Monografia apresentada como Trabalho de Conclusão de Curso em Licenciatura plena em História (UFCG) - Cajazeiras, 2017.

SCHEIDEL, W. The Great Leveler: violence and the history of inequality from the stone age to the twenty-first century, Princenton University Press, 2017.

SECRETO, M. V. A seca de 1877-1879 no Império do Brasil: dos ensinamentos do senador Pompeu aos de André Rebouças: trabalhadores e mercado. História, Ciências, Saúde – Manguinhos, Rio de Janeiro, v.27, n.1, jan.-mar. 2020, p.33-51. Disponível em < http://www.scielo.br/pdf/hcsm/v27n1/0104-5970-hcsm-27-01-0033.pdf > Acesso em abril de 2020.

SILVA, A.?Recife, uma cidade doente: a gripe espanhola no espaço urbano recifense (1918). Dissertação de mestrado apresentada no PPGH/ UFPE, 2017.

SOUZA, I. e MEDEIROS FILHO, J. Os degredados filhos da seca, 2a Edição, Petrópolis, 1983.

SNOWDEN, F. Epidemics and Society: from the Black Death to the Present. Yale University Press, 2019.

SOUZA, C. M. A gripe espanhola na Bahia de Todos os Santos: entre os ritos da ciência e os da fé, Dynamis, 2010,v. 30, p. 41-63.

REGO, José Pereira. Memoria historica das epidemias da febre amarella e cholera-morbo que têm reinado no Brasil. Rio de Janeiro: Typographia Nacional. 1873.

RIETVELD, J. J. Na Sombra do Umbuzeiro: história da paróquia de São Sebastião do Umbuzeiro, Imprell, João Pessoa, 1999.

RIOS, K. Isolamento e poder: Fortaleza e os campos de concentração na seca de 1932, Fortaleza, Imprensa Universitária, 2014.

TAYLOR, S. The Psychology of pandemics: preparing for the next global outbreak of infectious disease, Cambridge Scholars Publishing 2019.

Artigos Semelhantes

1 2 > >> 

Você também pode iniciar uma pesquisa avançada por similaridade para este artigo.